domingo, 23 de novembro de 2008

FMI esmaga Islândia



















Milhares de pessoas manifestaram-se neste sábado, 22, em Reykjavik, capital da Islândia, contra o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma vez que vai destruir o sistema de bem-estar social do país.

Após o protesto, perto de 200 dos 6 mil manifestantes foram para o centro da cidade para exigir a liberação de um companheiro preso na sexta-feira, tendo entrado Os manifestantes em confronto com a polícia.

"O FMI esmaga a educação, o bem-estar, o sistema de saúde e a democracia", dizia um panfleto distribuído durante a manifestação, que ocorreu três dias depois que o FMI aprovou um empréstimo de US$ 2,1 bilhões para a Islândia. O fundo é freqüentemente criticado por impor condições drásticas a países, que enfrentam dificuldades financeiras.

A Islândia tornou-se o primeiro país da Europa Ocidental a ser socorrido pelo FMI desde 1976, quando o Reino Unido tomou um empréstimo. Desde há seis semanas que os islandeses realizam protestos aos sábados, e pedem novas eleições e um novo governo.

"Protestos pacíficos são feitos em tempos de paz, mas a Constituição e a democracia estão sob ataque", disse Katrin, estudante de direito, que acusa o governo de ter transformado a Islândia no país mais endividado do mundo.


sábado, 22 de novembro de 2008

Manifestação da Função Pública

Ontem a Manifestação da Função Pública juntou entre o Marquês de Pombal e a Assembleia da República cerca de 50 mil manifestantes, embora a polícia fale em 20 a 25 mil manifestantes...Vai dar no mesmo, uma vez que o que interessa é capacidade de mobilização das estruturas sindicais e a adesão dos trabalhadores ao desafio que foi proposto pelas mesmas.
A direita dos interesses instalados incomoda-se muito como a Rua, no entanto, em democracia a Rua é um factor de pressão e de formação da opinião pública que é preciso ter em conta.
Há um descontentamento na função pública com o governo de José Sócrates que é preciso ter em conta.
Os trabalhadores foram escolhidos como bode expiatório dos sucessivos erros cometidos pelos governos PS/PSD/CDS PP, nos últimos trinta anos, e foram-lhes pedidos sacrifícios, que implicaram perda de compra durante uma década, em virtude dos aumentos salariais terem sido sempre abaixo da inflação.
De facto, todos agora podem verificar como os próprios olhos que não havia dinheiro para pagar os salários dos funcionários públicos, mas há para financiar a banca que se teve lucros astronómicos antes da crise do subprime.


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Bancos

Thomas Jefferson 1802


«I believe that banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies. If the American people ever allow private banks to control the issue of their currency, first by inflation, then by deflation, the banks and corporations that will grow up around the banks will deprive the people of all property until their children wake up homeless on the continent their fathers conquered.»

«Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo Americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram.»


terça-feira, 11 de novembro de 2008

A LUTA FINAL


Por António Barreto

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ESTADO E SOCIALISMO não são sinónimos. Há quem esqueça esta banalidade, mas é por vezes preciso lembrar. Não são. Pode haver, há Estado, muito Estado, até Estado a mais, sem socialismo. O que não há é Socialismo sem Estado. Até mesmo sem Estado a mais. Nas crises actuais do sistema financeiro e nas que ainda aí vêm, incluindo as económicas, uma palavra tem servido de receita miraculosa: o Estado! Primeiro, como fiscal e regulador; depois como juiz e polícia; agora como proprietário e accionista. A esquerda delira de entusiasmo. Falhou o regulador. Vai falhar o juiz e o polícia, pois os ricos escapam sempre. Sobra o Estado proprietário. É a grande oportunidade. Talvez se consiga, pensam uns, construir o socialismo, à socapa, sem luta de classes e sem revoluções. Grandes esperanças!
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Nos anos noventa, com o fim do comunismo e da União Soviética, os socialistas julgaram que tinham ganho. “Enfim, sós!”, suspiraram. Sem ninguém à esquerda, sem ameaças de ditadura da mesma família política, respiraram aliviados. Nunca perceberam que, com o fim do comunismo, morriam também um pouco. E mudavam de natureza. Os socialistas desistiram dos seus combates seculares, das suas razões genéticas de vida e de luta. Apesar da existência de variantes, sempre lutaram por mais Estado, a ponto de, frequentemente, serem condescendentes com a violência, o abuso de poder e a violação de direitos fundamentais. Quando o fim último é o Estado e as esperanças que nele depositam, os socialistas e outros companheiros de esquerda hesitam pouco. Para um socialista de gema, o Estado tem sempre razão.
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Além do Estado, o outro princípio primordial era a propriedade. Os socialistas perfilhavam vários conceitos, desde a propriedade dos meios de produção à nacionalização dos sectores estratégicos da economia. Dado que a propriedade era o alicerce do capitalismo, o seu derrube exigia a expropriação e a nacionalização. Estado e propriedade eram os factores essenciais do movimento socialista. Tal como os comunistas, viveram décadas com a certeza de que a sociedade sem classes e o progresso dependiam da destruição das classes proprietárias e do estabelecimento da propriedade dos meios de produção pelo Estado. A Constituição portuguesa de 1976, da autoria de ambos, preconizava “a apropriação colectiva dos principais meios de produção e solos, bem como dos recursos naturais”!
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As duas últimas décadas viram transformarem-se os credos socialistas. E sobretudo a sua acção. Converteram-se ao mercado, mesmo se algumas vezes só em aparência e por cinismo eleitoral. Gradualmente, passaram a considerar a iniciativa privada como essencial. Tomaram a dianteira ou ajudaram a desnacionalizar as economias e a reprivatizar as empresas. Contribuíram para emagrecer o Estado. Colaboraram com os capitalistas, as grandes multinacionais e os grupos económicos. Uns limitaram-se a executar essas políticas, outros converteram-se mesmo pessoalmente. A propriedade deixou de ser o factor divisor das classes e das políticas. A iniciativa privada e o mercado deixaram de ser fronteiras. A luta das classes deixou de ser o motor da História. Os socialistas passaram a desejar ser eficientes, produtivos e responsáveis. Depois de terem mostrado a sua incapacidade, até para gerir um carro eléctrico, começaram a ser ou a aspirar ser bons gestores. E a retirar, do capitalismo, o melhor possível. O Estado nacional, um pouco, e o Estado europeu em construção, muito, continuam a ser credo e crença, mas domesticados agora pela boa gestão dos negócios e pela competitividade.
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A crise económica e financeira deste ano trouxe nova alegria aos socialistas. Era a derrota do capitalismo, gemeram. Depois da do comunismo, a vitória parecia total. Ouvem-se pessoas, lêem-se textos que não escondem a jovialidade com que olham para “a crise”, ainda por cima americana. “Estava-se a ver”, “era inevitável”, “tiveram o que mereciam”: eis tons das suas recentes cantilenas. Os mais brutos chegam a pensar que talvez seja esta a maneira de construir o socialismo. Mas a maioria já só pensa em salvar o capitalismo. Na sua megalomania, querem mesmo “refundar o capitalismo”. Com o Estado e os socialistas, pois claro.
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Liberais, conservadores, populares, social-democratas, socialistas e trabalhistas estão unidos num propósito: salvar o capitalismo! Na sua quase totalidade, é isso mesmo que querem fazer. Sem cinismo. Do lado das esquerdas, é possível que haja algum sentido da oportunidade: sob a capa do salvamento do capitalismo, entra o Estado. Entra e fica! Mesmo para esses, a ideia de construir o socialismo é absolutamente utópica e risível. Também querem salvar o antigo inimigo. Só que, se puderem ficar no 
cockpit ou pelo menos partilhar a torre de controlo, ficam felizes. Com o Estado e o capitalismo, pois claro!
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Os socialistas louvam o Estado, murmuram de contentamento com as nacionalizações americanas, as de Gordon Brown, as portuguesas que vêm a caminho e as espanholas prometidas. Os socialistas já não estão convencidos de que esta crise é a do fim do capitalismo e a da vitória do socialismo. É a vitória do Estado, em qualquer caso. Não perceberam é que se trata da derrota final do socialismo. Já não é alternativo. Já não tem modelos a defender. Os socialistas interessam-se agora pela vida privada dos cidadãos, por causas culturais e pelos costumes. Casamento e divórcio, aborto e adopção, eutanásia e suicídio, homossexualidade e droga são as causas dos socialistas e de muitas esquerdas. A derrota dos socialistas é a que os transforma, não em coveiros, mas em curandeiros do capitalismo, em ajudantes dos que querem refundar o capitalismo, em decoradores que lhe querem dar um rosto humano. Uma espécie de serviço de assistência, de garagem ou de cuidados intensivos do capitalismo. Se existe uma derrota final, é bem esta.

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«Retrato da Semana» - «Público» de 9 de Novembro de 2008

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