domingo, 29 de junho de 2008

A Democracia e as Lutas Sociais

Diz o poeta que “o sonho comanda a vida e que sempre que o homem sonha o mundo pula e avança”.
Retraduzindo este ideal utópico, podemos afirmar que as relações sociais e políticas são inerentemente feitas de tensões e contradições sociais, assumindo estas um carácter mais visível e concreto nas conflitos sociais produzidos pelas sociedades.
A democracia é sinónimo de liberdade, igualdade, justiça e direitos sociais.
Neste início de século e milénio, constata-se as fragilidades e limitações do modelo de democracia representativa.
Desenvolvem-se os apelos para uma democracia participativa e directa, onde os trabalhadores e cidadãos vejam reforçados as suas capacidades de intervenção e mudança social e política.
As lutas sociais e revoluções sempre tiveram uma importância decisiva na história e tal se verifica actualmente, sobretudo na Europa e América Latina.
Quanto ao povo português, este tem mantido igualmente bem vivo os ideais de Abril. As lutas laborais, afinal, continuam a assumir uma grande centralidade, como o atestam os milhares e milhares de trabalhadores que ao longos dos últimos anos nas várias manifestações convocadas pela CGTP, procuram ser respeitados na melhoria das suas condições de vida, pelo direito a uma vida melhor, no combate às desigualdades sociais, contra o desemprego, pelo direito à protecção social e desenvolvimento do país.
É este príncipio democrático que encontramos também nas lutas dos professores e na defesa da escola pública, como nas lutas dos pescadores, cada vez mais uma classe profissional em grande risco de pobreza, ainda na Administração Pública, nos trabalhadores que lutam contra a deslocalização das suas empresas, nos movimentos de utentes dos serviços de saúde contra a empresarialização do direito universal à saúde, ou contra o aumento dos preços dos combustíveis.
O capitalismo selvagem tem-nos ofertado com a guerra, a degradação generalizada das condições económicas, a insustentabilidade ambiental, a desumanização da sociedade e a miséria de milhões que morrem de fomem todos os anos.
Com o capitalismo actual o mundo não tem pulado e avançado.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Che Guevara


"¿Cuál es la mejor manera de conmemorar los ochenta años del Che? Creo que el mejor regalo sería ver a las nuevas generaciones creyendo y luchando por otro mundo posible, donde la solidaridad sea hábito, no virtud; la práctica de la justicia una exigencia ética; el socialismo el nombre político del amor. ¡ Construir un mundo sin degradación ambiental, hambre y desigualdad social!" - Frei Betto, Teólogo Brasilheiro

terça-feira, 10 de junho de 2008

Comece a ler sobre Marx,acabe a falar sobre Marx

José Ricardo Costa



Estive, há tempos, num congresso em Braga onde assisti a uma palestra de Adela Cortina, filósofa espanhola, especialista em Ética.

Houve uma frase dela que mereceu longos e vibrantes aplausos: dizia que a existência de pobres no mundo seria sempre uma derrota para a Economia como ciência, uma derrota dos economistas.

Por outras palavras: a pobreza está para a Economia como uma ponte mal construída para a engenharia civil ou o Manuel Luís Goucha para a testosterona.

Quando a prestigiada filósofa disse aquilo lembrei-me logo de Marx. Não enquanto economista derrotado mas enquanto economista esquecido.

Marx foi um grande economista e um razoável filósofo. Mesmo que na sua principal obra, O Capital, tenha abandonado a linguagem filosófica do "jovem Marx", dificilmente imaginamos a crítica marxista ao modo de produção capitalista, sem uma referência ética e política por detrás.

20 anos depois da queda do muro de Berlim, é chegada à altura de ressuscitar o grande intelectual alemão. Antes, teria sido difícil por causa do pesadelo do "socialismo real". Dizia-se "Marx" e atiravam-nos logo com a Albânia e a Roménia como ovos podres, mais os milhões de vítimas da construção de um mundo novo na URSS, na China ou no Camboja.

Hoje, já sem esses pesadelos que faziam o nosso mundo liberal e capitalista parecer um Eldorado social e político, poderemos voltar novamente a concentrarmo-nos nos nossos próprios pesadelos nos quais a Economia funciona independente da política, onde o dinheiro, a finança, o capital, se sobrepõem a todos os valores.

Daí ter gostado, há dias, de ouvir Sérgio Ribeiro falar de Marx durante um debate económico. Porque voltar a falar de Marx significa voltar a colocar a política, a ideologia, a ética, como motores de toda a discussão.

Eu acho muito piada ver economistas a falar de economia. Divirto-me sempre imenso. Claro que depois não aguento e acabo sempre por adormecer. Parecem engenheiros mecânicos a falar sobre a linha de montagem de uma fábrica. O seu mundo é um mundo neutro, objectivo, com leis próprias. Falam do Mercado como um biólogo fala da natureza ou Rui Santos do 4x4x2.

Obviamente que a política nunca se fez sem a economia. Mas nunca, como hoje, se fez tanta economia sem a velha política. É este ciclo que urge inverter.

Claro que já não se pode ser marxista como se era há 30 anos, do mesmo modo que nem a Catherine Deneuve nem o Benfica são os mesmos de há 30 anos. Nada mesmo é como há 30 anos: Amália morreu, Carlos Lopes engordou, Maria Barroso converteu-se ao cristianismo e eu próprio também já não me sinto lá muito bem.

Já não há mais virgindades para perder, conhecemos bem os erros da História, as cegueiras ideológicas. Aliás, vivemos mesmo num tempo onde os "ismos", enquanto visões globais do mundo, não se conseguem aguentar. Aliás, hoje, pouca coisa no mundo se consegue aguentar , excepto os pobres de sempre.

Quando Adela Cortina, perante a existência da fome, da pobreza, da miséria, falava de uma derrota da Economia, não era bem de uma derrota da Economia que devia ter falado. A derrota é sempre da política, pois a economia é sempre política e, por muito científica que queira ser e parecer, tem sempre a marca da ideologia.

Claro que a Economia está cheia de fórmulas, de leis, de causas e efeitos, de fenómenos previsíveis. Há fenómenos económicos que só cientificamente poderão ser compreendidos e estudados.

Mas, em última instância, as grandes decisões económicas remetem sempre para questões morais e existenciais. Meter o dinheiro a ditar as suas próprias leis em Estados politicamente frágeis e amorais, significa entregar os seres humanos às suas próprias fraquezas e vícios.

O bezerro de ouro não dá para todos. E Marx, que era judeu, sabia isso melhor que ninguém.

josericardoccosta@gmail.com


domingo, 8 de junho de 2008

A Reforma Agrária


Vivemos tempos estranhos e difíceis, de tal forma que era impensável há alguns anos o Vaticano, através do Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP), defender "a reforma agrária e o favorecimento das populações rurais como parte da solução para a actual crise alimentar."

Pois, “a questão da reforma agrária nos países em via de desenvolvimento não pode ser descurada, para que se confira a propriedade da terra aos cidadãos e se favoreça assim o uso de milhares de hectares de terra cultivável”.

Uma vez que “a crise alimentar ameaça a realização do direito primário de cada pessoa a estar livre da fome”.

E “não se pode pensar em diminuir a quantidade de produtos agrícolas destinados ao mercado de alimentos, ou às reservas de emergência, a favor de outros fins que, mesmo se pertinentes, não satisfazem um direito fundamental como o da alimentação”.

Mas, como escreve, Esther Vivas, na Adital "apesar da crise, as principais companhias de sementes, Monsanto, DuPont e Syngenta, reconheceram um aumento crescente de seus lucros e o mesmo ocorreu com as principais indústrias de fertilizantes químicos. As maiores empresas processadoras de alimentos como Nestlé ou Unilever também anunciam um aumento em seus lucros, embora abaixo das que controlam os primeiros trechos da cadeia. Do mesmo modo, as grandes distribuidoras de alimentos como Wal-Mart, Tesco ou Carrefour afirmam seguir aumentando seus lucros".

Por isso, talvez fosse bom voltar a ouvir uma velha canção:





A desalambrar


(Daniel Viglietti)

Yo pregunto a los presentes
si no se han puesto a pensar
que esta tierra es de nosotros
y no del que tenga mas.

Yo pregunto si en la tierra
nunca habra pensado usted
que si las manos son nuestras
es nuestro lo que nos den.

A desalambrar, a desalambrar!
que la tierra es nuestra,
tuya y de aquel,
de Pedro, Maria, de Juan y Jose.

Si molesto con mi canto
a alguien que no quiera oir
le aseguro que es un gringo
o un dueño de este pais.

A desalambrar, a desalambrar!
que la tierra es nuestra,
tuya y de aquel,
de Pedro, Maria, de Juan y Jose.